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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Dexter: Capítulo 3 - 1x3


 Eu tinha me esforçado para fazer direito, mas só se pode usar o que há. Não poderia ter feito nada se eles não estivesse lá
há tempo suficiente para secar, mas estavam muito sujos. Eu limpara quase toda a sujeira, mais alguns corpos tinham ficado na horta muito tempo e não dava para saber onde começava a sujeira e terminava o corpo. Na verdade, não se pode dizer, quando se pára de pensar. Tão sujo... Eram sete, sete pequenos corpos,sete órfãos bem sujos, deitados em tapetes de borracha para banheiro, que são mais limpos e não grudam. Sete linhas retas apontando direto através da sala. Apontando direto para
o padre Donavan, Então, ele entendeu. Estava prestes a ficar como eles. _Ave Maria, cheia de graças... _ começou a rezar. apertei bem o laço. _Nada disso padre. Agora, não. Agora é para dizer toda a verdade.
  _Por favor_ ele pediu sufocando. _É, pode me implorar. Muito bem, melhorou._ puxei de novo. _O senhor acha que é só isso, padre? Sete corpos? Eles imploraram?_ Não respondeu. _Acha que são só esses, padre? Só sete? Peguei todos? _Ah, céus_ ele disse rouco, com uma dor agradável de ouvir.
  _E nas outras cidades padre? O que dizer de Fayetteville? Quer falar sobre Fayetteville?_ Ele deu apenas soluços sem palavras. _ E sobre East Orange? Foram três? Ou será que esqueci um? É difícil ter certeza. Eram quatro em East Orange, padre? O padre Donavan tentou gritar. Sua garganta tinha pouco espaço para um bom berro, mas havia uma emoção real por trás , o que compensou a falta de técnica. Ele caiu de cara e deixei-o choramingar um pouco antes de puxá-lo para cima. Ele estava
inquieto e agitado. Perdeu o controle da bexiga e uma baba escorria pelo queixo. _Por favor, eu não consegui me conter, simplesmente não consegui. Por  favor, entenda..._ ele disse. _Eu entendo, padre_ falei; algo na minha voz era do passageiro das trevas e fez o padre gelar. Levantou a cara devagar para mim e o que viu nos meus olhos fez com que ficasse bem parado._   Entendo perfeitamente_ insisti, chegando bem perto da sua cara. O suor em seu rosto virou gelo._ Sabe, eu também não consigo me conter. Estávamos bem perto,  quase nos tocando, e a sujeira dele de repente ficou demais. Puxei o laço e chutei seus pés.   O padre Donavan se esborrachou no chão.
  _Más crianças? Eu jamais faria isso com crianças._ apoiei minha bota bem limpa na cabeça dele e empurrei com força sua cara no chão. _ Ao contrario de você, padre. Com crianças, nunca. Tenho de achar gente como você. _Quem é você?_ sussurrou o padre Donavan. _Sou o começo e o fim_ respondi_ Conheça o seu destruidor, padre._
  A agulha estava preparada e enfiei-a em seu pescoço como era para fazer, os músculos rígidos resistiram um pouco, mas o padre Donavan, não. Empurrei o êmbolo e esvaziei a seringa, fazendo com que ele ficasse imediatamente bem calmo. Em poucos
instantes, ficou com a cabeça flutuando e virou a cara para mim. Será que estava me vendo? Será que via as luvas de borracha dupla, os esmerados aventais, a lisa mascara de seda? Será que estava me vendo mesmo? Ou será que aquilo só acontecia na outra sala, a sala do passageiro as trevas, a sala limpa? Duas noites antes, ela fora pintada de branco, varrida, escovada, lavada, completamente limpa. No meio da sala, que estava com as janelas fechadas com grossos emborrachados brancos, sob as luzes no meio da sala, será que ele me viu lá na mesa que eu tinha feito, as caixas de saco de lixo branco, as garrafas de produtos químicos e pequena fileira de serrotes e facas? Será que ele me viu, afinal? Ou será que viu aqueles sete montes sujos e sabe lá quantos mais? Será que ele viu sem poder gritar, se transformando naquela confusão na horta? Não devia ter visto, claro. A imaginação não permitia que ele visse como sendo da mesma espécie. De certa forma, ele estava certo. Jamais
ia virar aquela porcaria em que ele tinha transformado as crianças. Pois eu jamais faria aquilo, não permitiria. Não sou como o padre Donavan, não desse tipo de monstro. Sou um monstro bem asseado. O asseio toma tempo, claro, mas vale a pena. Vale a pena agradar o passageiro das trevas, mantê-lo calmo por mais tempo. Vale a pena fazer tudo direito e limpo. Tirar do mundo mais um monte de porcarias.
  Mais alguns sacos de lixo bem embrulhados e meu pequeno canto de mundo fica mais asseados, mais feliz. Um lugar melhor. Eu tinha umas oito horas até ter de ir embora.
  Precisaria delas para fazer direito. Prendi o padre na mesa com fita adesiva e cortei suas roupas. Fiz as preliminares rapidamente: barbeei, escovei, cortei tudo o que era sujo. Como sempre, senti a maravilhosa, lenta e longa sensação de alivio ir tomando conta de todo o meu corpo. Aquela sensação iria palpitar dentro de mim enquanto eu trabalhava, aumentando e se apossando de mim até o final, a Necessidade e o padre sendo levados juntos como uma onda que ia se desmanchando.
  Exatamente quando ia começar o trabalho duro, o padre Donavan abriu os olhos. Não havia medo, como ocorre as vezes. Olhou bem para mim e mexeu os lábios. _O que disse? Não ouvi_ avisei, aproximando a cabeça mais um pouco. Ouvi-o respirar lenta e pacificamente e repetir, antes de fechar os olhos. _Não há de quê_ disse eu, e pus mãos á obra.

Escrito por: Jeff Lindsay

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