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segunda-feira, 4 de março de 2013

The Walking Dead: A Ascensão do Governador: Capítulo 1 - Series Premiere - 1x1


Um pensamento passa pela cabeça de Brian Blake enquanto ele se encolhe na escuridão bolorenta, o terror sufocando o peito e a dor latejante nos joelhos: se ele tivesse um segundo par de mãos, poderia pelo menos cobrir os próprios ouvidos e talvez bloquear o som das cabeças humanas sendo partidas. Infelizmente, as únicas mãos que Brian possui estão ocupadas no momento, cobrindo os ouvidos de uma menininha ao seu lado no armário.
  Ela tem 7 anos e está tremendo nos braços dele, se encolhendo a cada vez que ouve os sons intermitentes de PÉIM-GAHHH-TUM do lado de fora. Então vem o silêncio, interrompido apenas pelo som grudento de botas sobre o chão de cerâmica ensanguentado e uma enxurrada de sussurros raivosos no vestíbulo.
  Brian tosse de novo. Não tem como evitar. Ele luta contra esse maldito resfriado há alguns dias, uma dor incessante nas juntas e nas maçãs do rosto da qual não consegue se livrar. Com ele, acontece sempre no outono, quando os dias na Geórgia começam a ficar mais úmidos e sombrios. A umidade penetra os ossos, consome a energia dele e dificulta a respiração. E agora Brian ainda sente uma rajada de calafrios toda vez que tosse.
  Curvando-se com mais uma saraivada de tosses ritmadas típicas dos asmáticos, ele mantém as mãos sobre as orelhas de Penny. Brian sabe que os sons que emana estão chamando todo tipo de atenção do lado de fora do armário, a casa está na mais completa confusão, mas não tem nada que ele possa fazer. Ele vê pequenos feixes de luz a cada tosse, como se fossem filigranas de fogos de artifício cruzando as pupilas cegas.
  O armário - que tem pouco mais de um metro de largura e talvez um metro de profundidade - é tão escuro quanto um tinteiro e fede a naftalina, cocô de rato e madeira antiga. Invólucros de plástico, cobrindo ternos e casacos, estão pendurados na escuridão, roçando o rosto de Brian. O irmão mais novo dele, Philip, disse que não tinha problema tossir no armário. Aliás, Brian poderia muito bem tossir a plenos pulmões, e acabar atraindo os monstros, mas o fato é que ele não podia passar aquela maldita gripe para a filhinha de Philip. Porque, se isso acontecesse, Philip quebraria a cabeça do irmão.
  O surto de tosse passa.
  Momentos mais tarde, mais uma série de passos irregulares interrompe o silêncio do lado de fora do armário: é mais um morto entrando na zona de guerra. Brian aperta as orelhas de Penny com mais força e a menina estremece diante de mais uma performance de "Cabeça partida" em ré menor.
  Se lhe pedissem para descrever que merda estava acontecendo fora do armário, Brian Blake provavelmente voltaria ao tempo de dono de uma loja de discos falida e diria que o som dos crânios sendo rachados parecia uma sinfonia de percussão que poderia estar tocando no inferno - como um trecho meio louco de uma composição de Edgard Varèse ou um solo de bateria de John Bonham drogado -, com rimas e refrões repetitivos: a respiração ofegante dos seres humanos... os passos arrastados de mais um cadáver em movimento... o silvo agudo de um machado... o som grave do metal penetrando a carne...
  ...e, por fim, o grand finale, o splash de um peso molhado desfalecendo no piso de madeira grudento.
  Uma nova interrupção faz um calafrio percorrer a espinha de Brian. O silêncio volta a tomar conta do ambiente. Com os olhos acostumados à escuridão, Brian vê o primeiro brilho do sangue arterial espesso passando por debaixo da porta. Parece óleo de carro. Suavemente, ele afasta a sobrinha da poça que vai se formando, puxando-a para junto das botas e dos guarda-chuvas encostados na parede.
  A bainha do pequeno vestido jeans de Penny toca o sangue. Imediatamente ela puxa o tecido e esfrega a mancha com força, como se a simples absorção do sangue pudesse, de alguma maneira, infectá-la. Mais um surto de tosse faz Brian se curvar. Ele o segura. Engole em seco como se a garganta inflamada estivesse cheia de cacos de vidro e abraça completamente a menininha. Ele não sabe o que fazer, nem o que dizer. Quer ajudar a sobrinha. Quer sussurrar alguma coisa que passe segurança para ela, mas não consegue pensar em nada que possa inspirar confiança.
  O pai dela é quem saberia o que dizer. Philip saberia. Ele sempre sabe o que falar. Philip Blake é o tipo do cara que diz as coisas que os outros gostariam de ter dito. Fala o que precisa ser falado e faz o que precisa ser feito. Como agora. Ele está lá fora com Bobby e Nick, fazendo o que tem que ser feito... enquanto Brian está escondido na escuridão como um coelho assustado, desejando saber o que falar para a sobrinha.

Escrito por: Robert Kirkman & Jay Bonansinga

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