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terça-feira, 5 de março de 2013

Dexter: Capítulo 6 - 1x6


Debra não se assustava com as coisas. Quando era novata e os veteranos faziam brincadeira com ela, mostrando os corpos retalhados que aparecem em Miami todos os dias, para que vomitasse o almoço, Deb nem ligava. Tinha visto de tudo. Ia lá,fazia o que tinha de fazer e pronto. Mas aquela historia a abalou. Interessante.
-Este caso é especial,não?_ perguntei,
-É da minha área, com as putas.- Ela apontou o dedo para mim. -ISSO quer dizer que tenho de marcar ponto, virar noticia, assim consigo transferência para o Departamento de Homicídios.
  Dei meu sorriso contente. - Ambição, Deborah?
-É isso ai_ confirmou ela._ Quero sair do setor antivicios,não quero mais usar esta roupa sexy. Quero ir para Homicídios, Dexter, e esse caso pode ser a minha porta de uma entrada, com uma pequena brecha... _Ela fez uma pausa. Depois, disse algo
totalmente incrível. _Por favor, me ajude, Dex. Detesto isso.
-Por favor, Deborah? Você pediu por favor? Sabe como isso me deixa nervoso?
-Pare com essa besteira, Dex.
-Mas Deborah, realmente...
-Pare, já disse. Vai me ajudar ou não?
  Quando ela colocou desse jeito, com aquele estranho e raro “por favor” balançando no ar, o que eu poderia dizer senão:
-Claro que vou, Deb, você sabe.
  Ela me olhou duro, retirando o por favor.
-Não sei, Dex. Não sei nada de você.
-Claro que vou ajudar, Deb _repeti, tentando soar magoado. E, numa boa imitação de dignidade e ofendida, me encaminhei para a
caçamba de lixo com o pessoal do laboratório. Camilla Figg estava engatinhando no lixo, á procura de impressões digitais. Era uma mulher atarracada de 35 anos, cabelos curtos, que jamais reagia aos meus suaves e sedutores gracejos. Mas, quando me viu, ficou de joelhos no chão, ruborizada,olhou eu passar e não disse nada. Parecia que, sempre que me olhava, ela corava. Ao lado da caçamba, Vince Masuoka estava sentado na embalagem plástica para leite virada para baixo, olhando um monte de resto. Ele era meio japonês e gostava de brincar dizendo que herdou a metade menor.
  De todo jeito, achava que isso era piada. Havia algo levemente estranho no sorriso amarelo e brilhante de Vince. Como se tivesse aprendido a sorrir num livro de ilustrações. Mesmo quando fazia as piadas sujas de arrasar tira, ninguém ficava irritado com ele. Também ninguém ria, mas isso não impedia de continuar contando. Fazia todos os gestos rituais corretos, mais parecia estar sempre fingindo. Acho que era por isso que eu gostava dele.
  Era outro sujeito fingindo ser uma pessoa humana, exatamente como eu.
-Ei Dexter, o que houve para você aparecer aqui?_ Vince perguntou, continuando a olhar para baixo.
-Vim ver como os verdadeiros especialistas atuam num ambiente totalmente profissional. Você riu algum por ai?_ perguntei. -Rá,rá_ ele fez.
  Supostamente, era uma risada, mas foi ainda mais falsa que um sorriso.
-Você deve achar que está em Boston._ Ele encontrou alguma coisa, colocou sob a luz e ficou observando, com os olhos meio
fechados.
-Falando serio,por que está aqui?
-Por que não, Vince? É uma cena de crime, não? _devolvi, fingindo estar indignado.
-Você faz exames de borrifos de sangue _ele disse, jogando fora o que estava olhando e procurando outra coisa.
-Eu sei.
  Ele me olhou com seu melhor sorriso falso.
-Aqui não tem sangue,Dex. Fiquei bobo.
-Como assim?
-Não há sangue no corpo, nos objetos, nem nas imediações, Dex. Não há sangue algum, a coisa mais estranha que já se viu.   Sangue algum. Ouvi a frase ecoar na minha cabeça, cada vez mais alto. Nenhum pegajoso, quente, confuso, horrível sangue. Nenhuma gota. Nenhuma mancha. NADA DE SANGUE.

Escrito por: Jeff Lindsay

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