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terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Dexter: A Mão Esquerda de Deus: Capítulo 2 - 1x2


Fomos para o sul, calados por mais cinco minutos, com exceção do som dos pneus, do vento e da grande Lua lá em cima tocando sua poderosa música nas minhas veias e observador cuidadoso rindo baixo no furioso pulsar da noite. _Vire!_ repeti, e ele virou num golpe súbito, como se estivesse esperando pela ordem desde sempre. Mal dava para ver a pequena estrada suja. Quase
era preciso saber que ela existia. Mas eu sabia. Já havia estado lá. A estrada tinha uns dois quilômetros, fazia três curvas na grama aparada e arborizada e seguia um pequeno canal ate o pântano e a clareira. meio século antes, alguém tinha construído uma casa lá. Ela continuava quase inteira. Era grande. Tinha três quartos e a metade do telhado; estava completamente abandonada há anos. Menos a velha horta no quintal lateral. Ela indicava ter sido cavada pouco tempo antes. _Pare o carro_ mandei, quando os faróis iluminaram a casa decadente. O padre Donavan obedeceu com um golpe brusco do corpo. O medo estava grudado nele, os braços e as idéias estavam duros. _Desligue o carro_ mandei outra vez, e ele desligou. De repente, ficou tudo muito silencioso.
  Algumas coisas pequenas chilreou numa árvore. O vento soprava com a força da grama. Depois, mais silêncio, tão grande que quase engoliu o rugido da música noturna dentro do meu eu secreto. _Saia_ mandei. O padre Donavan não se mexeu. Estava olhando a horta. Havia sete montinhos de terra. Pareciam bem escuros a luz da lua. O padre Donavan deve tê-los achado mais escuro ainda.
  Continuou parado. Puxei bem o laço, mais do que ele achava que poderia agüentar, mais do que poderia imaginar que fosse acontecer com ele. Arqueou as costas no assento do carro, as veias saltaram na testa e ele pensou que ia morrer. Mas não ia. Ainda não. Na verdade, faltava um bom tempo. Abri a porta com um chute e puxei-o atrás de mim, só para ele sentir a minha força. Caiu pesadamente no chão arenoso e serpenteou como uma cobra ferida. O passageiro das trevas riu, gostou e fiz a minha parte. Apoiei a bota no peito do padre e mantive o laço apertado. _Faça o que
eu mandar. Tem que fazer_ expliquei. Inclinei-me e com, cuidado, desapertei o laço_ É importante que saiba disso. Ele me ouviu. Os olhos estavam vermelhos de medo e dor, escorriam lagrimas pela cara, olhou para mim num lampejo de compreensão e tudo o que ia acontecer estava lá para ele ver.
  Ele viu. E percebeu como era importante que fosse obediente. Começou a saber. _Levante-se_ mandei. Devagar,bem devagar,sempre de olho em mim, ele se levantou. Ficamos assim por um bom tempo, nos olhando, nos transformando numa só pessoa com a mesma necessidade, depois ele tremeu. Levantou a mão quase até a cara e deixou-a  cair. _Para a casa_ eu disse, bem baixo. Na casa, estava tudo pronto. O padre olhou para baixo. Olhou para mim, mais não conseguia mais ver. Virou para a casa e parou ao ver de novo os montes escuros de terra na horta. Queria me olhar, mais não conseguia, depois de ver de novo aqueles montes escuros iluminados pela lua. Rumou para a casa e segurei a corda. Caminhou obediente, de cabeça baixa, uma vitima boa e dócil. Subiu os cinco degraus, passou pela varanda estreita e chegou á porta da frente, que estava bem fechada.   O padre Donavan parou. Não olhou. Não me olhou.
  _Entre_ mandei,com minha suave voz de comando. O padre tremeu. _Entre_ repeti. Mas ele não conseguia. Passe o braço por cima dele e abri a porta. Empurrei o padre com o pé. Ele tropeçou, endireitou o corpo, entrou, e ficou de olhos bem fechados. Fechei a porta. Acendi o pequeno abajur de pilha que tinha deixado no chão, ao lado da porta. _Olhe_ sussurrei. O padre abriu um olho lentamente e cuidadosamente. Estremeceu de pavor. O tempo congelou para o padre Donavan.
  _Não_ ele disse. _Sim_ eu disse. _Ah, não_ ele disse. _Ah, sim_ eu disse. Ele gritou._ NÃÃÃÃO ! Puxei o laço. O grito foi interrompido e ele caiu de joelhos. Soltou um som rouco, úmido e lamentoso, cobriu o rosto._É, está uma grande bagunça, não? _ perguntei. Mexeu a cara toda para fechar os olhos. Naquele momento, não conseguia olhar, pelo menos do jeito que estava o lugar.
  Não o culpei, não mesmo, pois estava uma grande bagunça. Fiquei aborrecido de saber que estava assim, já que eu tinha preparado o lugar para ele. Mas ele tinha de ver. Tinha. Não apenas para mim. Não apenas para o passageiro das trevas. Era para ele. Ele tinha de ver. E não estava vendo. _Abra os olhos, padre Donavan_ mandei. _Por favor_ ele pediu, num pequeno lamento terrível. Aquilo me deu nos nervos, não devia, era preciso manter um controle gélido, mais me atingiu na cara ao ver
aquela confusão no chão e chutei suas pernas por trás. Apertei bem o laço, segurei-o por trás do pescoço com a mão direita e enfiei sua cara no sujo piso de madeira empenada. Havia pouco sangue no chão e isso me deixou mais louco. _Abra, abra os olhos. Abra AGORA. Olhe._ Agarrei-lhes os cabelos e puxei sua cabeça para trás._ Faça o que eu mandar. Olhe. Senão eu corto suas pálpebras._ ameacei. Fui bem convincente. Ele então olhou. Fez o que mandei. Olhou.

Escrito por: Jeff Lindsay

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